domingo, 11 de novembro de 2007

Sunitas, Xiitas, Califados e o Direito Muçulmano.

Maysa Espíndola Souza




Maomé foi, além de um líder religioso, um líder político e militar. Após a sua morte, em 632 d.C., iniciou-se os primeiros cismas do mundo muçulmano. A religião fundada pelo profeta foi conhecida durante muitos anos, no Ocidente, por “maometanismo”. Como Maomé morreu sem designar seu sucessor manifestaram-se duas correntes que ainda hoje lutam pelo poder, a ordem xiita (“Shiat Ali” – seguidores de Ali, em árabe) e a ordem sunita (“Sunat Anabi” – tradição do profeta, em árabe).
Para os xiitas, que correspondem à cerca de 15% dos muçulmanos do mundo, o sucessor do profeta deveria ser o seu parente mais próximo. Ou seja, Ali, que era primo, filho de Abu Talib (tio de Maomé), e genro de Maomé, casado com Fátima, a única dos descendentes do profeta que chegou a fase adulta. Na opinião dos sunitas, grupo que corresponde à maioria dos muçulmanos, “qualquer fiel poderia ser um candidato adequado, desde que fosse consensualmente aceito pela comunidade”1.
Os quatro primeiros califas ou sucessores estavam entre parentes de Maomé ou entre os primeiros convertidos ao Islamismo. A estes são atribuídas várias conquistas militares, formando, assim, o vasto Império Árabe que compreendia os territórios da Argélia Ásia Menor, Egito, Espanha, Índia, Marrocos, Mesopotâmia, Palestina, Pérsia e Síria.
O ideal pleno do Califado nunca se concretizou, a começar pela instabilidade devido a já mencionada ausência de um ato do profeta em designar seu sucessor2.



A expressão Khalifat rasul Allah (sucessor do enviado de Deus) significa que seu titular herdou todas as atribuições e poderes de Maomé com exceção, naturalmente, de sua missão profética que, convém sublinhar se extinguiu com a morte do fundador do Islamismo3.

O ideal dos Califados variava de acordo com os princípios de seus “governantes”. “Eis um resumo dos deveres do califa (...)”:

●Manter o Islam de acordo com a tradição;
●Fazer reinar a justiça;
●Proteger as fronteiras;
●Aplicar as penas que a lei prescreve contra os transgressores ;
●Impedir as incursões inimigas colocando tropas nas fronteiras;
●Combater os infiéis que rejeitam as exortações do Islamismo até que se convertam ou se tornem tributários;
●Cobrar taxas segundo as prescrições corânicas;
●Regulamentar as despesas públicas;
●Designar pessoas honestas e competentes para os cargos públicos;
●Manter a administração e todos os negócios de Estado sob sua estreita vigilância pessoal4.

Das divergências entre xiitas e sunitas surgiram interpretações próprias da Sharia,(Char’ia ou Xariá) que “significa “caminho para o oásis”, ou seja, o caminho correto para a conduta humana, que foi mostrado por Deus ao homem” (NOTAKER, GAARDER, HELLERN, 2005, p.141). O Direito Muçulmano não pode ser pensado assim como o Direito Romano-germânico que vigora no Brasil, no qual a política tem de ser pensada a parte das concepções religiosas. Para os muçulmanos as concepções éticas, políticas e religiosas estão intrinsecamente ligadas. A Sharia se expressa no Corão, este é mais que um texto religioso, onde contém instruções rígidas sobre questões políticas, econômicas e sociais. Se o Livro Sagrado não for o suficiente para a resolução de problemas os muçulmanos se voltam a sunna, relatos sobre a vida de Maomé e os califas (escritos nos primeiros séculos após a morte do profeta). Recentemente as trocas culturais entre Ocidente e Oriente promoveram uma série de mudanças que resultaram no surgimento “de um sistema legal com dois níveis: a lei sagrada, que se aplica sobretudo aos assuntos particulares, e o direito público, que é secular” (Op. Cit). A oposição entre xiitas e sunitas não fez com que os primeiros rejeitassem a sunna do profeta, isto é, as tradições atribuídas a Maomé. Ao contrário, embora o nome sunita seja ordinariamente aplicado aos muçulmanos ortodoxos, pôde-se notar que os xiitas são mais ‘sunitas’ que os próprios sunitas. O xiita fundamenta a sunna somente na autoridade dos familiares de Maomé enquanto que o sunita ortodoxo admite também os testemunhos dos companheiros do profeta. Cabe ressaltar que as coletâneas das tradições sunitas (hadith) e as xiitas (akhbar) possuem inúmeras tradições em comum porém se diferem pelos agentes de transmissão5.



Referências Bibliográficas:

DEMANT, Peter. O Islã no tempo. In.: O Mundo Muçulmano. São Paulo: Contexto. 2004
GAARDER, J; HEERN, NOTAKER, H.O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval. Petrópolis: Vozes, 1976.
SOUZA, Osvaldo Rodrigues. História Antiga e Medieval. São Paulo: Ática, 1981.
<http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/hotsites/atentado_ny/conflito.html#6L> Acesso em 04 de nov. 2007.
<http://islam.org.br/os_califados_%20e_dinastias.htm> Acesso em 04 de nov. 2007.
<http://dn.sapo.pt/2007/01/06/opiniao/saddam_sunitas_e_xiitas.html> Acesso em 04 de nov. 2007.
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u97494.shtml> Acesso em 04 de nov. 2007.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_comparado> Acesso em 04 de nov. 2007.
<http://www.dcs.shef.ac.uk/~lucia/big_photos/London/BritishMuseum_Qur> Acesso em 04 de nov. 2007.








1 DEMANT, Peter. O Islã no tempo. In.: O Mundo Muçulmano. São Paulo: Contexto. 2004. p-38.
2 GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval. Petrópolis: Vozes, 1976.p-155
3 Ibidem.
4 Ibidem. p-156 e157.
5 Ibidem. p-345 e 346.
CIDADE SANTA DE JERUSALÉM

Sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, Jerusalém é a cidade da paz – Ierushalayim em hebraico. Caminhar pelas ruas da Cidade Velha é se deparar com 3 mil anos de uma história que pulsa em cada esquina e repercute no destino da humanidade.


Quando as pedras das construções de Jerusalém refletem a luz do entardecer, a cidade tinge-se de dourado. Quem a vislumbra assim não esquece jamais, tal qual anunciou o relato bíblico há 3 mil anos. Localizada na confluência de três continentes – Ásia, África e Europa –, a Cidade Santa tem sido palco de disputas há muitos séculos. Dentro dos muros que separam Jerusalém Velha e Santa da moderna capital de Israel, viver é uma experiência tão profunda quanto a fé de seus habitantes.


Promessa de Paz

Fundada pelo rei Davi em 1003 a.C., Jerusalém é o centro espiritual do povo judeu, que anualmente repete “No próximo ano em Jerusalém” em suas festas religiosas. É também o cenário dos últimos dias de Jesus, - de acordo com o Cristianismo – chegou à cidade, partilhou a ceia com seus discípulos, foi preso e sepultado no local onde se ergue a igreja do Santo Sepulcro. Para os muçulmanos, Jerusalém é sagrada, pois a partir dela que o profeta Maomé subiu aos céus. As mesquitas de Omar e de AL-Aksa, do século VII, identificam a cidade como o “Lugar Remoto” citado no Corão, o livro sagrado do Islã. Dentro das muralhas a luta continua e fora delas, a humanidade anseia pela realização da profecia de Isaías: “O lobo e o cordeiro pastarão juntos. Nem mal nem desordem alguma serão cometidos, em todo monte santo, diz o Senhor”.




Jerusalém – “o umbigo do mundo”

Fernanda Santos


Jerusalém a cidade de Davi, fundada há mais de três mil anos, esteve bastante tempo representada no mapa em lugar de destaque. Na maioria desses mapas apresentavam o mesmo caráter religioso, além de imagens e passagens na Bíblia.
Os cartógrafos da Idade Média projetavam os mapas T-O (o O era representado por um círculo e o T em seu interior). Nesse mapa-múndi tinha como característica a descrição do Gênesis da divisão do mundo entre os três filhos de Noé, - daí o surgimento dos três continentes: a Europa, a Ásia e a África. Os mapas “padrões” - os de Ocosius, de Isidoro e de Beatus – foram produzidos na atual Espanha – onde a fé cristã e a lei visigoda perpetuaram a sub-cultura romana. Há quem arrisque uma influência do modelo cartográfico circular romano ao mapa-múndi de Isidoro.
Como já foi dito, os mapa-múndi tinham como caráter religioso, seu principal objetivo didático e evangelizador. Como no caso de Hereford, que não se importou no fator geográfico, e sim, seguiu com suas crenças pregando o cristianismo a partir do século XIII.
Os mapas eram produzidos por eclesiásticos dedicados a reprodução de obras que davam importância as sedes religiosas como Roma, Jerusalém, Egito, o Éden ou Paraíso Terrestre.

“Porém, a tarefa de guardar e reproduzir referências da Antigüidade Clássica pelo Ocidente cristão e pelos árabes medievais está representada nos mapas de alguma forma. Apesar de nenhum mapa-múndi anterior ao século XI a.C ter sobrevivido, uma outra concepção sobre a forma da Terra e a extensão da área habitável (koumene - ecúmeno) daquela época remota está presente nos mapa-múndi medievais”.
(Trecho do artigo de Márcia Siqueira de Carvalho – O pensamento geográfico medieval e Renascentista no Ciberespaço)


Em várias teorias dos antigos gregos (Homero e Anaximandro) foram na forma da Terra como uma superfície plana cercada por todos os lados pelo “rio Oceano”. Pode-se notar a influencia de criaturas animas e povos estranhos.
Assim como Plínio, Isidoro que incluíram as representações no mundo. A Bíblia foi de total importância, principalmente, as passagens de Gênesis e o Apocalipse, para as representações do mundo medieval que chegavam a misturar as lendas cristãs e pagãs nos mapa-múndi.
A cartografia árabe revolucionou o formato dos mapas. Esses mapas (Ptolomeu) eram mais coerentes e mais completos. Um deles foi de Al-Idrisi, membro da família real, nascido em 1.100 e viajante pela Europa e Norte da África. Em 1.140 foi contratado pelo rei da Sicília. Estes mapas mostram o mundo, e neles observamos a influência de Ptolomeu quanto às fontes do rio Nilo (uma delas nascendo na parte oriental da África e a outra nas montanhas da lua e os seus lagos), mas diferentes daquele, Idrisi não ligou a África à Ásia, mantendo o Oceano Índico.
O que se difere dos “mapas cristãos”: ele não apresenta ilustrações, focaliza geograficamente, ao contrário dos mapas anteriores, não apresenta uma dimensão religiosa. O mapa fora copiado por cartógrafos árabes até o século XVII, quando foi substituído por modelos ocidentais.
Fra Mauro, desenvolveu um estilo peculiar ao mapa mundi de Al-Idrisi, retirou as imagens religiosas e a mitologia pagã. Não encontramos mais os sciapodae (homens de pés enormes), os monoculi (os homens de um olho só) e os cynocephale (homens com cabeça de cachorro) e Jerusalém não é mais o centro do mapa e o paraíso terrestre está fora do mapa, no canto inferior esquerdo. As legendas explicam os povos e as terras e a sua fonte para a Ásia foi Marco Pólo.
A teoria de Dante
A cartografia do universo da Divina Comédia é uma cosmovisão rica e cheia de significados e influências. Como um mapa árabe, o sul no topo, mas Jerusalém esta na extremidade embaixo, como que encerrando o mundo. A divisão entre terras e águas está bem estabelecida: o hemisfério norte concentra as terras onde os continentes: Europa, Ásia e África. Das águas do hemisfério sul emerge somente a ilha Purgatório encima pelo Paraíso Terrestre. O Inferno está na parte mais profunda da Terra (núcleo) e ligado à superfície na cidade de Jerusalém por um eixo vertical. Isto obedece a concepção aristotélico-ptolomaica de uma terra esférica, mas a presença da ilha-montanha transforma-a quase no formato de uma pêra). A Terra está imóvel no centro do Universo, envolvida pelas órbitas da Lua, dos planetas, da estrelas fixas, do primium móbile e o Empíreo (Céu). Cada círculo infernal representa o local de determinados “pecados”, e quanto mais inferior, maior a sua gravidade. Dante se utilizou como alguma liberdade do esquema aristotélico, incluindo situações morais cristãs, além de elementos da Bíblia, da Eneida (Virgilio 70 a.C ? – 19 a.C) e da Metamorfosis (Ovídio 40 a.C – 18 d.C).
Em resumo, se fizéssemos um perfil do hemisfério sul verificamos que a parte mais superficial em direção ao interior, chamada de Ante Purgatório, é o local dos arrependidos. A subida até o topo da montanha é o caminho para o Paraíso Terrestre (que não estava no local tradicionalmente aceito na época – na extremidade do Oeste ou Oriente). A ligação ente o Purgatório e o Inferno é feita por um eixo vertical interno à Terra. Dante criou uma Terra em que detalhou os lugares para cada homem, vivo ou morto, e nesta última situação, de acordo com os seus pecados.


Conclusão
Jerusalém era uma velha cidade, rica por suas tradições religiosas. Pertencia a uma povoação que não fazia parte das tribos de Israel. Além do mais, separava as tribos do norte e do sul.
A tomada de Jerusalém foi o ponto alto da carreira de Davi. Pois esta cidade era o lugar ideal para uma nova capital. Sua posição geográfica constituía uma âncora perfeita para uma união das tribos do norte e do sul. Ao transportar a Arca de Deus para Jerusalém, Davi fez desta cidade o coração religioso do país e de seu reino. Através dos séculos, Jerusalém tornou-se o símbolo sagrado de todas as esperanças dos judeus. Jerusalém é a cidade Santa. E o monte em que Deus se manifesta e reside com seu povo.



Bibliografia:
- Exposição de mapas - www.geo.uel.br/marcia/mapashtml.html
- Harvey, P. D. A. Mappa Mundi: The Hereford World Map - London: British Library, 1996.
- W. L. Bevan e H. W. Phillot. Mediaeval Geography - Essay in Illustraton of the Hereford Mappamundi - cap XXII - Apud Kimble (1938 e 1999)
- Ver o mapa principal de Idrisi em: www.henry-davis.com/maps/emwebpages/219.html
www.laurinhaman.multiply.com/journal/item/52
www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?...
www.amisaday.hpg.ig.com.br/fatos/jerusalem.htm
-maravilhas do mundo - Natural Wonders of the World.
























A CRIAÇÃO DE HERÓIS - SALADINO E BIN LADEN
Angela Lima


Ao lançarmos nosso olhar ao passado, observamos que as crenças exerciam papel fundamental na vida dos indivíduos. A igreja sempre influenciou as ações individuais, políticas ou do Estado, de maneira que os que discordavam racionalmente de seus pontos de vista dogmáticos, naqueles tempos, simplesmente não eram considerados ou corria o risco de sofrer os suplícios da Santa Inquisição. O que outrora custou à vida de centenas de cientistas, alquimistas, rosacruzes e filósofos que discordavam racionalmente da Igreja, é hoje aceito com certa naturalidade.
Da mesma forma, os heróis do passado talvez não fossem assim considerados se inseridos no atual contexto e o inverso reflete a mesma lógica. Muitos valores sofreram modificações e outros permaneceram com profundas raízes, e em vários casos sem uma explicação racional ou ao menos embasada conceitualmente. Contudo muitas crenças a pesar das mudanças permanecem mutáveis mesmo com o avanço da ciência e a modificação da percepção humana.
Todos os povos do mundo, agora falando de etnocentrismo, se consideravam superiores a todos os outros povos. Esta é uma idéia universalmente difundida e, uma vez que o avanço das técnicas, particularmente no que dizem respeito ao poder bélico, os vencedores são sempre aqueles que dotados de uma maior capacidade de destruição, tornam-se os donos da verdade histórica. Isto tem sido motivo das mais variadas formas de intolerância ao longo da história humana, onde se encontram igualmente diversas formas de discriminação. Aqui interessa-nos a incapacidade de tolerar a fé ou a religião do outro ou mesmo aceita-la como válida.







Dentro de toda a narrativa, existe a figura daquele que é exaltado dentro de suas ações, e visto como herói. A história, é de conhecimento de todos, produziu diversos heróis ou figuras e de grande carisma. Em se tratando das lutas pela Terra Santa podemos citar dois grandes expoentes, um daqueles tempos que as informações são em muito distorcidas, e outro dos dias que correm igualmente com a sua imagem. Talvez não em sua totalidade, mas em muito narrada atendendo aos interesses de seus inimigos.
Apesar da grande distancia temporal entre eles, podemos tecer inúmeras comparações. Segundo a ordem de surgimento e de lugar histórico, citamos: Sala Al-Din Yusuf ibn Ayyub, o Saladino e Osama Bin Laden.
Também chamado de Al-Malik An-Nasir Salahuddin Yusuf, Saladino nasceu por volta de 1137 d.C. em Tikrit, Mesopotâmia. Oriundo de uma família curda, crescendo em Badbeck e Damasco, Saladino foi um jovem com um grande gosto pelos estudos religiosos que sobrepujava o treinamento militar. Iniciou sua carreira ao lado de seu tio Asad ad-Din Sherkuh, um grande comandante militar. Depois de sua morte, Saladino, então com 31 anos, foi indicado comandante dos soldados sírios no Egito e vizir do Califado Fatimida. Sua rápida ascensão se deve aos seus talentos, recebendo o título de rei (Malik), embora fosse mais conhecido como sultão. Sua situação se fortaleceu quando em 1171, aboliu o Califado xiita Fatimida, proclamou o retorno do Islã sunita ao Egito e se tornou o seu único governante. Tinha como grande objetivo unir sob sua bandeira, todos os territórios mulçumanos da Síria, do norte da Mesopotâmia, da Palestina e do Egito. Tudo isto realizado com sua habilidosa diplomacia e sempre que precisava, com o uso da força militar. Assim cresceu sua fama de homem generoso e virtuoso, porém um governante de pulso firme.
Em contraste com a dissensão e grande rivalidade que haviam dificultado a resistência dos mulçumanos aos cruzados, encontrava-se o singelo objetivo do sultão Saladino, que os induziu a se rearmarem física e espiritualmente. Seus atos foram inspirados por sua intensa devoção de Jihad contra os cruzados cristãos. Incentivar e encorajar o crescimento e expansão das instituições religiosas mulçumanas era parte essencial de sua política. Soube estabelecer boas relações com seus sábios e pregadores, construiu faculdades e mesquitas para seus usos e os autorizou a escrever obras, principalmente sobre a jihad. Através da regeneração moral, tentou recriar em seus domínios o mesmo zelo e entusiasmo que haviam sido tão valiosos às primeiras gerações de muçulmanos quando séculos antes conquistaram metade do mundo até então conhecido.
Saladino obteve êxito militar graças à união e a disciplina de forças ingovernáveis, para ele tidas como mais importantes do que o emprego de novas técnicas militares. Lutou inúmeras vezes, vencendo em muitas delas. A reconquista muçulmana de Jerusalém em 1187, depois de 88 anos em mãos dos francos, foi marcada por um comportamento civilizado e cortês de Saladino e seus soldados. A tomada de Jerusalém provocou comoção na Europa, resultando na Terceira Cruzada (Cruzada dos Reis).
As proporções da mobilização cristã e seu posterior fracasso (empate) só fizeram aumentar o prestígio mítico do sultão, inclusive no ocidente. Em 1192, a Terceira Cruzada terminara com a partida de Ricardo Coração de Leão para a Europa. Contudo na volta à capital, Saladino encontrava-se com a saúde abalada pelas duras campanhas e morreu em Damasco, na Síria em 4 de março de 1193, com 55 anos deixando 17 filhos. Foi grandioso, respeitado e um dos mais famosos heróis muçulmanos.
Continuando a caminhada histórica dos conflitos entre cristãos e muçulmanos, porém tomando uma vertente atual do assunto surge-nos um outro nome, porém com algumas ressalvas em comparação ao sultão Saladino.
A imagem do saudita Osama Bin Laden assume em muitos países islâmicos, contornos de um autêntico Robin Hood, um justiceiro da causa árabe. Porém seus inimigos o vêem de forma diferente. É considerado um exemplo do Islã e da causa árabe por muitos cidadãos da Arábia Saudita. Assim como o sultão egípcio, Bin Laden se transformou num ídolo já que é o único – segundo essa visão – que se atreveu a dar um duro golpe em uma superpotência mundial.
Bin Laden era um menino rico, mas sem objetivos na vida, sentia-se excluído da família e com 10 anos ficou órfão de pai e com uma herança de 300 milhões de dólares. Recebeu educação de tutores e sempre foi um aluno brilhante. Durante a faculdade de Engenharia que cursava na Arábia Saudita, resolveu aprofundar-se nas aulas de islamismo. Um de seus professores – que viria a ser um dos fundadores da organização terrorista Al-Qaeda – o convenceu a partir para o Paquistão e conhecer os líderes da resistência muçulmana, na sua volta tentou convencer os seus familiares a financiar uma mujahidin (guerra santa).
Encontrou na causa muçulmana razões para viver e passou a desembolsar fortunas para compra de armas e sustentar os guerrilheiros. Foi nessa época que ajudou a fundar a Al-Qaeda ou a Base, uma espécie de centro operacional para extremistas islâmicos. Participou de inúmeros combates, e a guerra o endureceu, foi ficando cada vez mais indignado com a corrupção do regime saudita. Principalmente com a recusa do governo quanto a sua oferta de defesa na ameaça de Saddan Hussein de uma invasão. Ao invés disso, o governo saudita convida as tropas americanas. Como vários muçulmanos, Bin Laden ficou ofendido pela presença dos soldados americanos com seus costumes tão diferentes.
A Arábia Saudita tem posição de respeito entre os paises Islâmicos por ser o berço do Islã e pais que abriga Meca e Medina, que são proibidas para não-muçulmanos. Quando Bin Laden começa a expor sua revolta com o governo é perseguido e condenado a confinamento em Jiddah. Foge refugiando-se na Sudão, onde encontra um governo de radicais muçulmanos, que pregavam a derrubada dos regimes seculares no mundo árabe e a instauração de governos puramente islâmicos. Envolveu-se em diversos conflitos no Sudão e também estabeleceu rentáveis e ajudou a construir estradas e aeroportos.
A pressão diplomática exercida, entretanto pelos Estados Unidos obrigou o Sudão e expulsar Bin Laden, que voltaria para o Afeganistão sob a proteção do movimento Talibã. É lá que se sente em casa, vivendo entre a pobreza e o ascetismo, este herói medieval trava uma incrível guerra solitária contra a maior potência mundial. Também é acusado de ter tramado os atentados às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998 que deixaram mais de 200 mortos.
As poucas pessoas que o conhecem o descrevem como um homem modesto e tímido, contudo capaz de iniciar sua cruzada para tentar tornar o fundamentalismo uma força no Oriente Médio e destruir os Estados Unidos, como sempre acreditou ser possível. E assim conseguiu chegar as Torres Gêmeas, porque os americanos o menosprezavam e graças a uma rivalidade entre a CIA e FBI, Bin Laden conseguiu que seus homens se infiltrassem para a realização de seu principal ataque terrorista, realizado no dia 11 de setembro de 2001, a destruição do World Trade Center, causando a morte de milhares de pessoas.

Dentro desta perspectiva, pode-se salientar, tanto Saladino quanto Bin Laden surgiram como personagens históricos na luta pelo ideal da causa árabe, com intuito de manter a unidade da fé muçulmana dentro de seus territórios. Claro que com vertentes em muitos diferenciadas, mas com uma proposta de união dos povos muçulmanos e suas tradições. Revivemos dentro desta narrativa o conflito ainda existente entre Ocidente e Oriente, num momento particularmente delicado depois do ousado ataque de Osama Bin Laden às torres gêmeas de Nova York, e da guerra do Iraque. Não diferente da Idade Média, o confronto entre culturas, com fanatismos de ambos os lados, numa época em que o Ocidente encontrava-se mergulhado na Idade das Trevas, enquanto o Oriente progredia, a luta pela Terra Santa hoje assume características muito mais capitalistas do que religiosas, por parte do Ocidente. No alcorão está escrito que quem salva uma vida salva a humanidade e que Deus não mudará a condição dos homens se eles não mudarem o que está neles. A verdade é que homens continuaram a lutar por esta causa, com o sonho de que o Islã seja tido como o caminho para a paz.